Entrevista ao grupo de leitura «O que é português é bom.»
Por Maria João Diogo.
- O que é, para ti, escrever?
Essencialmente, é criar. Gosto da possibilidade que a escrita me dá de poder influenciar o imaginário do leitor, criando nele emoções e imagens.
- Quando percebeste que querias ser escritor?
A meio da adolescência. Foi a altura em que mais li e houve um momento a partir do qual comecei a sonhar com a possibilidade de criar eu a história e decidir o rumo das personagens. Hoje em dia, ainda é isso que mais me seduz – a possibilidade de decidir a narrativa.
- Escreves apenas pelo prazer da escrita (se depois for publicado, tanto melhor), ou já com o objetivo de publicar o livro?
Escolhi escrever, por ser algo que me dá muito gosto fazer, embora, atualmente, tudo o que escreva tenha o intuito de ser publicado. Além de ter um contrato com uma editora, a Cultura Editora, sou representado por uma agência literária, a Agência das Letras, e, antes de os iniciar, os meus projetos são discutidos com as equipas envolvidas.
- Sempre que começas a escrever um novo livro, de onde te surgem as ideias?
Não é preciso muito para me sentir inspirado. A minha memória funciona de uma forma extremamente visual e é normal obter ideias a partir de imagens, daquilo que elas me sugerem. A música também é uma ajuda preciosa, nomeadamente, para tomar decisões quanto ao ritmo da intriga. Por vezes, construo os meus livros de acordo com um andamento musical que considero adequado, caso pudessem um dia virem a ser adaptados ao cinema. Por fim, há a pesquisa. Ir aos locais onde decorre a ação e investigar os temas que escolho sobre o enredo, geralmente, abrem-me muitas hipóteses.
- Descreve-nos, por favor, um pouco o teu processo de escrita.
Tenho-o simplificado ao longo dos anos. Atualmente, o que faço é reservar algum tempo para trabalho prévio, nomeadamente de pesquisa e aprofundamento do enredo, e só depois começar a escrever, algo que apenas consigo fazer quando tenho pelo menos duas horas pela frente. De seguida, faço também muita reescrita.
Normalmente, o último capítulo a ser escrito no dia anterior é refeito no seguinte.
- Fazes planos antes de começares a escrever um livro?
Não, mas estabeleço linhas orientadoras e pontos de passagem para a ação, mantendo um caderno onde vou tomando notas acerca do que irei fazer adiante, ou de ideias novas que possam ir surgindo. O resto, deixo ao sabor da inspiração momentâneo. Normalmente, sou mais criativo assim.
- Quanto tempo levas a escrever um livro?
Cerca de um ano, incluindo o processo de pesquisa e criação de enredo.
- Quando a história se desvia do plano inicial, pode obrigar a rever e reescrever partes. É mais difícil reescrever ou escrever pela primeira vez?
Escrever. Tudo o que envolva a criação será sempre mais difícil, pois estaremos a partir do nada.
- Sentes que as personagens lideram o processo da escrita? Ou é da total responsabilidade do autor?
Pode ser um misto das duas coisas. As personagens são criadas por nós e, no meu caso, costumo ter mão firme nelas, mantendo-me focado no enredo. Contudo, já aconteceu em mais do que um livro deixar-me seduzir por uma personagem. Nesses casos, perdemos sempre alguma imparcialidade e pura e simplesmente existem personagens que crescem e se transformam, tomando conta do livro.
- Vamos ter um livro novo? Se sim, para breve?
Sim, o meu último livro mais recente chama-se A Morte do Papa e foi publicado em janeiro de 2020. Em maio irei voltar a apresentar A Célula Adormecida, numa edição revista com capítulos inéditos, e, a partir daí, passarei a dedicar-me a algo novo, cuja data de publicação ainda não foi definida.
- Quais são os autores que te inspiram?
Nenhum. Há autores cujos livros gosto muito de ler, como Ken Follett, ou Daniel Silva, mas não o faço à procura de inspiração. Creio ter a minha própria voz.
- O que gostas de fazer quando não estás a escrever?
Praticar desporto, ler, ver um filme, ou passar tempo com o meu cão.
- O que é que os livros (os teus e os dos outros autores) te dão?
A possibilidade de viver outras emoções, de refletir e até mesmo viajar.
- Enquanto leitor, qual é o teu género preferido?
Espionagem e thrillers, em geral. Também leio romances históricos.
- Escreverias um livro de um género fora da tua zona de conforto? Um livro de ficção científica, por exemplo?
Sim. Considero-me escritor e não um escritor de thrillers.
- Como é que os teus familiares, amigos e colegas de trabalho reagem a esta tua faceta de escritor?
Apoiam-na e sentem-se orgulhosos. Também sinto o mesmo quando alguém que conheço publica um livro.
- Para finalizar, fala-nos um pouco dos teus livros publicados. Qual é o teu favorito? Qual foi o mais difícil de escrever?
Sou o autor de sete livros, dois contos, e uma coletânea de contos. O meu primeiro livro foi O Espião Português, publicado em 2012 depois de ter vencido um concurso de novos talentos literários organizado pela revista Lux Woman, o grupo LeYA, e o grupo SONAE. Seguiram-se A Espia do Oriente e A Hora Solene, os outros dois volumes da trilogia Freelancer.
A partir desta altura, tenho-me dedicado mais aos thrillers psicológicos, com uma forte conotação religiosa. São os casos de A Célula Adormecida, Pecados Santos, A Última Ceia e, mais recentemente, A Morte do Papa. Escrevi também um conto de Natal, de título «Redenção», e integrei a coletânea Desassossego da Liberdade, com o conto «A Cidade». Em simultâneo com A Morte do Papa, publiquei Histórias do Bem e do Mal, uma coletânea de contos inspirados no livro e que apenas está disponível em formato digital.
De todos, o meu preferido é A Última Ceia, por ser o que considero mais diferente. O mais difícil de escrever foi A Morte do Papa, por questões pessoais.