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Entrevista O Cardeal – Revista Estante, Fnac Portugal.

Alguns destaque da entrevista que concedi à revista Estante, da Fnac Portugal.

Por Inês Pereira.

Fotografias por Marisa Martins.

 

O Cardeal surge no seguimento de A Morte do Papa, um livro que continua a conduzir os leitores pelos corredores do Vaticano. Este é um livro que pode ser lido até por quem não leu o anterior ou as informações do primeiro livro são cruciais?

O Cardeal pode ser lido por alguém que não conheça os livros anteriores. Aliás, toda a série, apesar dos cinco volumes serem protagonizados pela mesma personagem, tem apresentado essa característica. Cada título possui um enredo independente, o que faz com que os livros possam ser lidos fora de ordem, ou isoladamente.

São preocupações que tenho. Por um lado, nunca assumo que quem irá ler o livro que estou a escrever conhece o anterior, obrigando-me sempre a fazer um ligeiro enquadramento, que não tem de surgir logo no início. Por outro, esta série literária já tem alguma dimensão, os livros são muito diferentes entre si, e julgo ser natural que nem todos os leitores tenham interesse nos mesmos títulos, ou sequer a possibilidade financeira de adquirir a coleção completa. Infelizmente, muitos dos portugueses precisam de ter um orçamento limitado para os gastos que fazem com cultura.

 

Como foi o processo de escrita desta obra? Foi a pesquisa que o inspirou ou já tinha uma ideia definida?

Parti para este livro apenas com três premissas: desenvolver o arco narrativo iniciado no último capítulo de A Morte do Papa; explorar o passado negro da família Emanuel; e Cambridge.

Esta cidade universitária tem estado omnipresente na série, com várias referências ao longo de quase todos os livros, incluindo alguns capítulos breves, uma vez que fez parte do passado do protagonista, Afonso Catalão. Por isso, achei que estava na altura de fazer com que o senhor professor regressasse a um dos locais onde foi mais infeliz. A sua passagem por Cambridge foi marcada por um sofrimento atroz, que ainda hoje define a sua forma de ser. Espero ter sido bem-sucedido com os últimos capítulos do livro, mas foi essa a minha intenção: fazer Afonso ultrapassar o trauma com que ficou da sua passagem por Cambridge, revivendo os fantasmas do passado, espectros esses que também assombram outra personagem.

O Cardeal acabou por ser escrito tendo em conta este triângulo, recorrendo à técnica que tenho desenvolvido ao longo da minha carreira. Defino o início e fim do livro, bem como alguns pontos de passagem intermédios, de forma a não me perder no enredo. O resto vai sendo criado de forma livre, encadeando os acontecimentos e desenvolvendo as personagens de acordo com o que creio fazer mais sentido. Julgo que este processo me permite ser mais criativo, beneficiando o leitor, que irá ler um livro mais rico e denso.

Este é o quinto livro da série protagonizada por Afonso Catalão. Qual foi a inspiração para criar esta personagem?

O Afonso nasceu de um desejo. Estava a escrever A Hora Solene, o último volume da trilogia Freelancer, e a personagem principal não me permitia tornar o livro mais negro, uma vez que tinha um código moral muito rígido. Então, decidi que o meu próximo protagonista seria diferente. Não procurava criar uma personagem má, mas alguém com um passado complexo, durante o qual fora obrigado a agir erradamente, por força das circunstâncias.

Este professor universitário tem evoluído ao longo da série à qual deu o nome, mas julgo que ainda hoje esta característica é o que mais o define e aquilo que tem dado maior imprevisibilidade à série. Afonso é eticamente correto e um homem íntegro, mas faz o que julga ter de fazer em nome do bem coletivo, nem que para tal tenha de ficar na fronteira entre o bem e o mal.

 

Conhecemos Adam Immanuel em A Morte do Papa, embora com um papel mais secundário. A personagem volta agora e é central na história. Sentiu que havia mais para contar sobre Adam e a sua família?

Sim, essa foi a motivação principal que me levou a escrever O Cardeal. Não houve espaço suficiente em A Morte do Papa para desenvolver e caracterizar Adam tanto como intencionara, um anseio que reservei para o livro seguinte.

Este escritor inglês é especial, quase uma espécie de anti-herói. Os leitores estão habituados a que quando um escritor surge num livro, seja sempre caracterizado positivamente, mas não é o caso de Adam. Este homem tão famoso, como arrogante, esconde segredos obscuros, começando pela sua própria escrita e pelos fantasmas que o atormentam. Para mim, é uma personagem fascinante, tal como Lizzie, a irmã, que considero aquela que mais injustiçada acaba por ser com o desfecho de O Cardeal.

 

Antes de lançar O Cardeal, o Nuno apostou num podcast cujo protagonista era precisamente o cardeal de A Morte do Papa. O que o levou a criar este projeto? O objetivo era que o podcast funcionasse como uma prequela do novo livro?

Sim, mas não só. Inicialmente, apresentámos O Assassino como uma série de ficção derivada de A Morte do Papa, uma vez que a personagem de O Cardeal já aí surgira, embora fugazmente. Não queríamos divulgar logo o título do livro que estava por vir e também era meu objetivo criar algo diferente do que já fizera com o meu primeiro podcast, Os Ficheiros Catalão. Desejava uma harmonia maior na duração e génese dos episódios, uma história que pudesse ser narrada durante mais do que uma temporada.

A ideia de ligar a série ao  livro O Cardeal foi mantida em segredo e só acabou por ser revelada em dezembro, depois da edição ser anunciada para janeiro, embora tenha estado na origem do projeto. Chamámos-lhe prequela, mas na realidade, para mim, é mais uma apresentação da personagem. Não considero o podcast, ou o e-book interativo O Assassino. Crónicas da Vida e da Morte, que depois disponibilizámos a um preço simbólico, como fundamentais para os leitores da série Afonso Catalão, mas sim enquanto um bónus, e também uma experiência de leitura diferente, inspirada nos meses de confinamento que temos vivido.

 

Quais são os planos para o futuro? Já tem ideias para o próximo thriller?

O meu futuro é algo que neste momento ainda é incerto. Um dia depois de O Cardeal chegar às livrarias, as lojas tiveram de fechar. A pré-venda e os dias iniciais, em que foi autorizada a comercialização ao postigo, acabaram por ser muito positivos, mas, na verdade, ainda não conseguimos perceber qual terá sido a verdadeira recetividade do público.

Este é provavelmente o meu livro mais ambicioso. Por isso, está decidido que a série Afonso Catalão regressará em 2022, para um sexto livro.

Entretanto, enquanto começo lentamente a escrever o novo livro dedicado a Afonso, estou a terminar o trabalho na reedição de O Espião Português, seguindo-se em 2022 os restantes volumes da trilogia Freelancer. Os três tomos da minha primeira série literária trarão capítulos inéditos.

 

A revista pode ser encontrara na íntegra Blogue da Fnac Portugal.

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